Yangon, o primeiro gosto a Myanmar
Yangon foi uma surpresa para mim. Confesso que não esperava muito desta cidade. Pensei que seria apenas mais uma grande cidade onde o movimento excessivo de carros e pessoas ofuscassem a cultura e costumes típicos, mas a verdade é que acabei por ser surpreendida.
Depois de negociado o valor do táxi do terminal de autocarros para a zona da Downtown, onde ficaria alojada (que rapidamente passou de 20.000 kyats para 10.000), chego à Myint Myat Guesthouse às 4h da manhã. Grade da entrada do edifício fechada com um homem a dormir no interior no chão. Ok. Acordo-o? Ligo para a Guesthouse? De repente vejo aproximar-se do fundo da rua um homem que prontamente bate nas grades de forma algo violenta, acordando o adormecido do outro lado. Este levanta-se, com um olho fechado e outro aberto, abre as grades e pergunta o piso de destino. Passa o cartão no sistema de segurança do elevador e marca o número 7, o piso da recepção da Guesthouse. Apesar da hora, foi possível fazer o check-in e ter um quarto disponível para descansar umas horinhas antes de sair para ir conhecer a cidade. A varanda da Guesthouse com uma vista fantástica sobre a zona da Downtown ainda me deixou tentada a aguardar aqui umas horinhas para assistir ao nascer do sol. Mas depois de uma viagem de autocarro de 10 horas com poucas horas de sono, não aguentei e desabei em cima da cama por algumas horas seguidas.
Com o corpo mais ou menos descansado, saio porta fora rumo à estação de comboios de Yangon após ter encontrado online uma recomendação para fazer a volta circular de comboio. Diziam que esta volta de comboio era a melhor forma de conhecer os arredores de Yangon e a mim pareceu-me uma excelente ideia, não gostasse eu tanto de andar de comboio. Pelo caminho sou arrebatada pelos cheiros fortes que se sentem ao caminhar pela rua. Está um calor tremendo, pelo que qualquer cheiro é aumentado em triplo. Existe lixo pelos passeios, bancas de comida e restaurantes porta sim porta não, o tráfego automóvel é intenso. Aqui, ao contrário das grandes cidades de outros países do Sudeste Asiático, os turistas são olhados ainda com muita curiosidade e eu tenho de exercer algum poder de abstracção para me conseguir distrair dos inúmeros olhos em mim durante o caminho todo.
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Chego à estação de comboios onde compro um bilhete por 300 kyats (cerca de €0,22) que me levaria numa viagem com partida e regresso a esta mesma estação, por cerca de 3 horas. Não podia ter escolhido melhor forma de me introduzir na cultura e vida Birmanesas. O comboio atravessa vários bairros e povoações de Yangon e arredores, e eu, como espectadora atenta, à janela, observo com curiosidade as rotinas do dia-a-dia dos seus habitantes. Assisto à espera paciente nas estações por onde passamos, de adultos,crianças, idosos, monges, pelo comboio que as levará a casa, ao trabalho, ao mosteiro; a pessoas a passearem o gado, a tratarem dos seus terrenos ou a caminharem junto à linha e sou brindada com sorrisos espontâneos e cumprimentos entusiasmados de quem manifesta tanta curiosidade por mim como eu por elas. De máquina fotográfica em riste, vou tentando registar o máximo que consigo, certa de que nenhuma fotografia poderá transmitir a sensação que este país nos dá, a generosidade das suas pessoas e o seu genuíno interesse por nós.
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A meio caminho, reparo numa mulher em pé, junto ao meu lugar, que me olha com alguma timidez e curiosidade. Faço-lhe sinal para se sentar ao meu lado, ao que ela prontamente acede. Passados uns 10 minutos de estarmos lado a lado, reparo, pelo canto do olho, que ela se levanta e se senta no banco em frente. Olho para ela e vejo que está de telemóvel na mão a tirar-me uma foto. Sorrio enquanto ela me tira pelo menos 3 fotos. Faz questão de me mostrar a seguir, orgulhosa da foto que me tinha tirado e por gestos dá a entender que me acha bonita. Agora sou eu que peço para tirar uma com ela, ela acede claro e ficamos as duas satisfeitas, com as respectivas fotos a registar aquele momento tão especial para ela como para mim.
No dia seguinte visitei o famoso Kandawgyi Lake, anteriormente conhecido por “Royal Lake”. Algo que constatei aqui e que vim a verificar noutras cidades do país, é a importância que estes espaços têm para os locais, especialmente para os mais novos como adolescentes e jovens adultos. São espaços onde eles convivem diariamente, se juntam para um snacks sentados na relva, onde namoram (escondidos por trás dos guarda-chuvas que normalmente os protegem do sol ou da chuva, mas que aqui apenas lhes permitem dar largas ao seu afecto e às hormonas aos pulos), onde tiram selfies e esperam, à sombra, que o calor passe.
O lago é enorme e é percorrido por um passadiço de madeira de um dos lados. As suas águas estão repletas de nenúfares e flores de lótus. Pelo caminho cruzo-me com vários outros locais que também aqui passeiam, trocamos sinais de cumprimentos, alguns “Mingalabar” e uns “Hello”. Ao chegar ao final do passadiço a fome já aperta, pelo que é hora de procurar um sitio para aconchegar o estômago. Uns metros mais à frente encontram-se uma série de restaurantes e cafés junto ao lago, mas é preciso pagar para entrar neste recinto. 300 kyats depois estou sentada numa mesa com um prato de noodles e um sumo de melancia à frente.
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Com o sol quase a pôr-se, apresso o passo para chegar a tempo ao Shwedagon Pagoda, uma das principais atrações de Yangon e (há quem diga) o mais antigo Pagoda do mundo, com cerca de 2500 anos. Após subir os 166 degraus até ao topo da colina onde está localizado e de enrolar um pano à volta das pernas e outro à volta dos ombros, entrei. Dezenas de pessoas percorriam o espaço à volta do pico do Pagoda, entre elas cerca de 10 mulheres em fila, lado a lado, que varriam energeticamente o chão atropelando qualquer um que se metesse à sua frente, monges que se divertiam a tirar selfies, fiéis que rezavam em frente aos vários altares espalhados pelo espaço. Saí pelo lado oposto do templo, em direção ao jardim do People’s Park. Esperei aqui pelo pôr do sol para poder tirar algumas fotos ao Pagoda. Já de noite, desci em direção à praça central do Parque onde me deparei com um espetáculo de luzes e água na fonte principal assim como uma demonstração de danças tradicionais num palco aqui montado. Juntei-me às dezenas de pessoas sentadas no anfiteatro que assistiam ao espetáculo e aqui fiquei algum tempo até terminar.
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O dia terminou com um jantar na animada zona da Chinatown. Escolho algumas espetadas de várias espécies e feitios numa das bancas disponíveis e sento-me à espera. Em frente ao restaurante onde estou sentada vejo 2 turistas a comprarem um copo de grilos fritos. Sentam-se numa mesa atrás e eu não resisto a observá-las à espera da sua reacção ao trincarem o primeiro grilo. Uma delas oferece-me um. Não hesito em aceitar, apesar da hesitação que se seguiu em trincá-lo. Ganho coragem e cá vai disto. Na realidade não era assim tão mau! À primeira trinca, desfaz-se e a única coisa que fica é um sabor forte a estorricado. Não repito a proeza mas pelo menos agora já sei a que sabe. Uma cerveja Myanmar depois e terminava assim esta estadia em Yangon. Esperava-me no dia seguinte uma viagem de autocarro para Bagan onde passaria 5 dias entre 2000 templos.
Até já!
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1 Comment
O comboio que faz a volta circular parece-me uma ideia fantástica, sem dúvida que fica na minha lista coisas a fazer em Yangon.