Javiera | Chile | 28 anos
Conheci a Javiera, uma chilena a viajar sozinha há já alguns meses, numa guesthouse em Yogyakarta, na ilha de Java, Indonésia. Trocámos algumas palavras nos 3 dias em que nos cruzámos na guesthouse, mas foi só na última noite, com uma cerveja na mão, sentadas à mesa com um francês e uma Suíço-Equatoriana, que verdadeiramente partilhámos experiências de vida e de viagens. Uma simpatia esta menina 🙂
Aqui fica o seu testemunho enquanto viajante a solo para mais um bocadinho de inspiração para as vossa próprias viagens!
Jo: Lembras-te do dia em que decidiste viajar sozinha?
Javiera: Bem, a verdade é que comecei a viagem com uma amiga mas acabámos por nos separar, por ordem do destino, após 5 meses na Nova Zelândia. Entretanto conheci muitas pessoas que, a pouco e pouco, se transformaram na minha família de viagem. Mas na realidade, a decisão de viajar sozinha foi tomada por obrigação, já que se não tivesse mudado de cidade não encontraria trabalho. Foi a melhor decisão que alguma vez tomei desde então.
Jo: Onde foste e por quanto tempo?
Javiera: Comecei a viajar sozinha por algumas cidades da Nova Zelândia ao longo de 10 meses, tendo continuado pelo Sudeste Asiático por mais 2 meses, e foi aí que te conheci.
Jo: Existiram alturas em que tiveste dúvidas quanto a viajar sozinha ou sentiste-te sempre confiante e decidida?
Javiera: Uff… A verdade é que toda a gente tem medo do desconhecido e eu não sabia o que me esperava quando comecei a viajar sozinha. Fazia questão de manter uma mente positiva convencendo-me que tudo iria correr bem, mas os medos estão sempre lá e são uma grande ajuda quando os canalizas e usas a teu favor. Existem situações que por alguma razão não te deixam confortável, não te parecem bem, e esse medo faz com que recues podendo fazer-te evitar grandes problemas. Mas não tens de deixar que os medos tomem conta de ti porque assim nunca farias nada e não é essa a ideia.
Jo: Para ti, qual é a melhor coisa de viajar sozinha?
Javiera: Sem qualquer dúvida: conhecer pessoas de diferentes países, religiões, culturas, etc. É algo que me enriquece muito enquanto pessoa e me faz aprender algo novo todos os dias. Sempre achei que as pessoas entram na tua vida por alguma razão nem que seja porque têm algo para te ensinar ou tu a elas.
Jo: Alguma vez te sentiste insegura ao viajar sozinha? O que aconteceu?
Javiera: Creio que tenham sido poucas as vezes em que me senti insegura ao viajar sozinha, mas recordo-me de uma situação em particular em que estava a pedir boleia na Nova Zelândia e parou um carro com um homem com um ar muito estranho. Como estava num local muito longe da próxima povoação, aceitei a sua boleia para poder avançar mais um pouco, mas fui todo o caminho a pensar que ele me poderia matar e deixar-me no meio das montanhas. Graças a Deus que não aconteceu nada disso, apenas na minha imaginação. No início pareceu-me que ele tinha um aspecto meio psicopata mas quando começas a conhecer as pessoas dás-te conta que isso é fruto de preconceito. Ele acabou por se revelar um tipo muito simpático e não se passou nada de mal.
Jo: Fala-me de 1 ou 2 das tuas melhores memórias enquanto viajavas sozinha.
Javiera: É muito difícil responder a esta pergunta já que tenho milhares de recordações… Mas vem-me à cabeça um dia em que estava na praia com uns amigos e estávamos a atirar pedras ao mar. Na verdade não é uma grande história, mas o que senti nesse momento foi fantástico: senti-me preenchida e muito feliz, senti que não precisava de mais nada, que a minha vida poderia ser sempre assim tão tranquila e que seria muito feliz. Foi um momento perfeito, rodeada por aquelas pessoas em particular e aquela paisagem.
Outra recordação que tenho vem da altura em que estava a trabalhar em Fox Glacier (Nova Zelândia) e me ofereceram um passeio de helicóptero gratuito por toda a área do glaciar. Foi uma experiência incrível tal como o momento em que nadei com uma tartaruga na Malásia. São oportunidades que a vida te dá e há que aproveitá-las ao máximo!
Jo: E quanto à pior memória?
Javiera: Creio que os piores momentos são quando andas com o que chamo de “bajón anímico” (ânimo baixo): quando sentes que tudo te corre mal e só queres comprar o bilhete de regresso para a tua zona de conforto. Isso aconteceu-me algumas vezes. Recordo-me de uma vez em que estava em Franz Josef, uma cidade na Nova Zelândia, e não me sentia confortável com o meu trabalho nem estava feliz no lugar em que vivia, então começou a aparecer o tal “bajón anímico” a tal ponto que só me queria ir embora. Comecei à procura de bilhetes de avião na Internet, mas estavam tão caros que era impossível comprá-los, por isso comecei a livrar-me de tudo quanto me fosse possível e a procurar soluções para sair de lá. Pedi uma transferência no trabalho e mudei-me para outra cidade onde tinha muitos amigos e me sentia mais confortável. O que importa é conseguirmos lutar contra estes momentos menos bons e continuar em frente porque sabes que no fundo a experiência te faz feliz.
Jo: Quando decidiste regressar a casa?
Javiera: Creio que seja algo muito pessoal, e que cada pessoa tenha diferentes critérios para saber se está na altura de voltar ou não, seja por pouco tempo ou para sempre. A mim aconteceu na Tailândia, quando estava numa das suas ilhas paradisíacas e não me sentia feliz. Viajar de cidade em cidade e de país em país já não era algo fascinante para mim porque a minha cabeça já estava preenchida com pensamentos sobre o Chile, a minha família, o nascimento do meu sobrinho e as festas de familia. Esse foi o momento que disse a mim própria que estava na hora de voltar, sendo que no meu caso será apenas por pouco tempo já que sei que em breve vou começar a sentir o formigueiro e a necessidade urgente de pegar na minha mochila e partir estrada fora.
Jo: Repetias a experiência?
Javiera: Claro! Quando o bicho da viagem te pica, não consegues parar. É um estilo de vida que algumas pessoas escolhem e apesar de não ser fácil ter de trabalhar o dobro para o conseguir fazer, a liberdade e a felicidade que me dá assim como tudo o que aprendo é algo que me preenche por inteiro e isso é impagável!
Jo: Qual o teu conselho para mulheres que estejam a pensar em viajar sozinhas?
Javiera: Façam-no, não se vão arrepender. Deixem as dúvidas de lado e façam-no. Viajar enriquece-te como pessoa, enche-te a alma e dá-te muitas experiências de vida.
Quanto a conselhos para as viajantes: creio que o melhor seja ir aprendendo pelo caminho porque podes sempre ler muito e ouvir conselhos de outras pessoas mas aprendes sempre muito mais enquanto viajas.