Dani | Brasil | 35 anos
Conheci a Dani num mini-bus que seguia em direcção ao templo de Borobodur, na ilha de Java, Indonésia, em Agosto passado. De repente pareceu-me ouvir falar português ao meu lado e nem queria acreditar. Tive de meter conversa, claro! Uma simpatia ela! 🙂 E já com histórias fantásticas de viagens na bagagem.
Aqui fica o seu testemunho para mais um bocadinho de inspiração.
Jo: Lembras-te do dia em que decidiste viajar sozinha?
Dani: Eu não lembro a primeira vez que eu pensei nisso. Mas lembro bem desde sempre ter essa sensação de que o mundo lá fora era grande demais pra ficar em casa assistindo esse mesmo mundo pela TV. Lembro de pensar que precisaria de mais dinheiro se quisesse viajar tanto. Arrumei um segundo emprego e uns freelas (trabalhos em freelancer), quase não tinha tempo, mas o tempo que sobrava eu usava pra sonhar mais e mais com o mundo lá fora.
Jo: Onde foste e por quanto tempo?
Dani: Em 2007 eu fiz uma viagem grande com meu ex-namorado, fomos pra Europa, Índia e Nepal por 7 meses, ele decidiu voltar e eu resolvi ficar. Viajei sozinha para Tailândia, Vietname e Cambodja por 3 meses.
A viagem seguinte foi em 2012. Viajei sozinha por 4 meses, fui para Tailândia, Laos, Malásia, Indonésia, Singapura, República Checa, Eslováquia e Hungria.
E agora a minha maior viagem, 9 meses no total. No inicio viajei sozinha, passei pelos Estados Unidos, Alemanha, Letónia, Rússia, Mongólia e Hong Kong. Encontrei algumas amigas na Tailândia e viajamos juntas pela Malásia, Laos, Cambodja, Singapura, Indonésia e Filipinas. Parte do Laos e do Cambodja nos separamos e fiquei sozinha de novo. Agora todas voltaram para o Brasil e eu voltei pra Tailândia de novo (um dia eu vou acabar morando aqui). No momento estou montando minha próxima viagem: Sri Lanka e Myanmar. No Sri Lanka vou encontrar alguns amigos mas ficarei sozinha de novo em Myanmar.
Jo: Existiram alturas em que tiveste dúvidas quanto a viajar sozinha ou sentiste-te sempre confiante e decidida?
Dani: Eu acho que você nunca se sente confiante em um país que você nunca visitou antes, tudo amedronta um pouco, mas acho que faz parte da experiência. Uma boa ideia é pesquisar muito sobre os lugares a que você vai. Especialmente os blogs de viagem, com histórias de quem já passou por onde você vai passar. Esses blogs têm as melhores dicas de viagem.
Jo: Para ti, qual é a melhor coisa de viajar sozinha?
Dani: Você pode escolher tudo, os restaurantes, os tours, os próximos passos, os próximos destinos, tudo! Quando você viaja com mais pessoas não é fácil entrar em um acordo para tudo, não que seja um problema, mas precisa existir consenso e isso as vezes é cansativo. E outro ponto positivo é que você pode pensar na vida, sobre tudo, sobre qualquer coisa que te incomoda na sua vida normal no seu país. Viajar sozinha é uma ótima terapia.
Jo: Alguma vez te sentiste insegura ao viajar sozinha? O que aconteceu?
Dani: Por vezes. Especialmente quando viajo sozinha em tuk-tuks, moto-táxis ou táxis. Mas nunca aconteceu nada, apenas não me sinto confortável.
Jo: Fala-me de 1 ou 2 das tuas melhores memórias enquanto viajavas sozinha.
Dani: Tenho muitas lembranças ótimas. Mas posso dizer que nadar a noite em alto mar com os planctons no Cambodja foi incrível. Eles são luminescentes e reagem aos movimentos, todo o seu corpo fica envolto por uma aura de luz quando você se movimenta. Difícil de descrever. Mas voltei no dia seguinte e fiz de novo.
E um trekking que eu fiz em Sumatra, sempre fui louca por orangotangos e estar no meio da floresta e ver esses animais laranja descendo das arvores pra ver voce de perto foi inacreditavel.
Jo: E quanto à pior memória?
Dani: Eu fui operada no Laos, tive uma infecção séria no ombro e eles tiveram que cortar fundo e drenar. Eu lembro a médica dizendo que eles não podiam dar pontos, que o corte ia ter que fechar de dentro pra fora, para ter certeza que a infecção não estava voltando. Lembro quando a médica e os enfermeiros saíram da sala de cirurgia e eu fiquei lá sozinha deitada na cama, eu chorei muito. Talvez tenha sido o dia que eu me senti mais sozinha em todas as minhas viagens.
Jo: O que sentiste quando regressaste a casa?
Dani: Sempre é difícil voltar pra casa. Mas você se acostuma. É a sua cidade, sua família, seus amigos e a comida que você ama. Eu sempre sinto falta da comida brasileira. Viajar pode ser cansativo e às vezes voltar para casa é muito bom.
Jo: Repetias a experiência?
Dani: Sempre. Eu sei que nem sempre é fácil viajar sozinha, mas o tempo que você tem para pensar na vida é maravilhoso. E você sempre vai conhecer pessoas, nunca vai fazer uma viagem sozinha e estar 100% sozinha, a não ser que faça questão disso.
Jo: Qual o teu conselho para mulheres que estejam a pensar em viajar sozinhas?
Dani: Esteja aberta a conhecer pessoas, novas culturas, novos lugares, mas sempre cuidadosa. E não fique com vergonha ou tímida, não se preocupe, as pessoas vão falar com você. E se possível faça parte de vários grupos de viajante, especialmente no Facebook, eles sempre têm boas dicas e sempre alguém querendo companhia para viajar ou as vezes só para um drink.