De bicicleta pelas Américas | Entrevista Daniela Toscano


Daniela Toscano | Portugal | 35 anos


Conheci a Daniela e a sua história através do meu grupo Mulheres Viajantes no Facebook e fiquei imediatamente fascinada. Há pouco mais de 1 ano atrás, a Daniela deixou tudo o que tinha em Lisboa e partiu numa viagem de bicicleta com o namorado pelo continente Americano. Do Canadá à Colômbia, já percorreu mais de 9000 kms. Embarcou agora na segunda parte desta fantástica aventura. Deixou a bicicleta para trás e segue viagem sozinha pela América do Sul. Desafiei-a a falar um bocadinho comigo sobre esta fantástica viagem. Vai uma dose de inspiração? 🙂

viajar sozinha
No Grand Canyon, nos EUA

Jo: Como surgiu a ideia de fazerem uma viagem de bicicleta pelo continente americano?

Daniela: Desde que me lembro que gosto de viajar. Comecei a viajar ainda bebé para ir visitar a família da minha mãe a França. Aos 9 anos viajei pela primeira vez de avião e terminei essa viagem a dizer que queria ser hospedeira para poder passar a vida a viajar. Mais tarde comecei a interessar-me por crónicas e livros de outros viajantes e a alimentar o meu sonho de fazer uma grande viagem de mochila às costas. Por esta razão, sempre que vejo alguma reportagem sobre o tema, paro para a ler com mais atenção e num desses momentos que cruzei-me com uma entrevista a um português que tinha percorrido o continente americano de bicicleta. Achei aquela experiência incrível e partilhei-a com o Tiago, pois ele gosta muito de andar de bicicleta. Na altura não nos surgiu logo esta ideia de iniciar uma aventura semelhante mas mais tarde percebemos que podia ser um plano comum que unia os nossos dois grandes interesses: a bicicleta, por parte do Tiago e as viagens, pelo meu lado.

Quando tivemos oportunidade entrámos em contacto com o viajante português cuja entrevista nos tinha inspirado e logo, na primeira conversa que tivemos com ele, surgiu em nós a certeza de querer fazer esta viagem pelo continente americano, de bicicleta.

Jo: Como foi a preparação para essa viagem? Que mudanças necessitaram de fazer na vossa vida antes de partirem?

Daniela: Eu precisei de comprar uma bicicleta e começar a andar nela, para ver se gostava. Porque até definirmos este objetivo eu não andava de bicicleta (nem fazia outro tipo de exercício físico)! Começámos também a acompanhar blogues e páginas de facebook de outras viagens em bicicleta e fomo-nos dando conta do que poderíamos precisar para a nossa viagem. Pesquisámos muito e tivemos contactos com outros viajantes que fomos hospedando em nossa casa através da rede de alojamento gratuito para viajantes de bicicleta, a warmshowers.org.

Definimos uma data para a partida e, até essa data, fomos tratando de reunir poupanças, comprar o material necessário, fazer pequenas viagens de teste e, finalmente, deixar a casa que alugávamos, vender a mobília e interromper os trabalhos que tínhamos.

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No Lago Atitlan, na Guatemala

Jo: Qual foi a reacção dos vossos amigos e familia à vossa decisão de partirem nesta aventura?

Daniela: Por já viajarmos com alguma frequência, as reações foram uma mistura de “Ok, é um plano que tem a ver convosco.” com “Eh pá, de bicicleta e durante tanto tempo, isso é capaz de ser um bocadinho louco!”. Os elementos da família, curiosamente, foram as pessoas que mais crédito e apoio nos deram quando começámos a partilhar esta ideia. Alguns amigos reagiam mais com o típico “Vocês são doidos!” e talvez a maioria só tenha acreditado que íamos mesmo fazer a viagem quando comprámos os bilhetes de avião para o Canadá e começámos a desfazer-nos das coisas que tínhamos em Lisboa.

Jo: Por que países já passaram? Consegues escolher um país que te tenha deixado as melhores recordações e outro que tenha ficado aquém das expectativas e explicar o porquê?

Daniela: Passámos, até agora, pelo Canadá, EUA, México, Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá e Colômbia. Todos os países nos deixaram algo de positivo pelas mais diversas razões mas foi no México que sentimos que tivemos uma experiência mais completa. Demorámos 6 meses a atravessá-lo e encontrámos, praticamente em todo o país, pessoas muito queridas e generosas, sempre dispostas a ajudar-nos com alguma coisa, desde pararem na estrada para nos darem comida, até nos oferecerem dinheiro para nos ajudarem com as despesas. Para além disso é um país com um património natural e cultural imenso que nos encantou visitar.

Quanto a algum país que tenha ficado aquém das expetativas, sinto que nenhum nos decepcionou. Posso dizer que a passagem pelas Honduras não nos deslumbrou em particular mas também estivemos lá apenas 3 dias pois a costa do lado do Pacífico é muito estreita e atravessámo-la bem depressa. Por outro lado, não conhecemos as regiões mais bonitas e turísticas que ficam do outro lado. Talvez se isso tivesse acontecido, teríamos ficado com uma opinião mais positiva.

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A família que nos recebeu em San Jose, Costa Rica

Jo: Começaste agora a segunda parte da tua viagem, a partir de agora sem bicicleta e sozinha. Porquê a decisão de embarcares noutro tipo de viagem agora?

Daniela: Depois de aproximadamente um ano de viagem, comecei a sentir-me menos motivada para passar tantas horas na bicicleta. O esforço físico que este meio de transporte me pedia começou a ser mais “pesado” do que divertido ou entusiasmante, como era no início. E, apesar de a experiência de viajar de bicicleta ser absolutamente fascinante, também tem algumas limitações. Por exemplo, quando queria ver um determinado lugar que ficava muito longe da nossa rota, acabávamos por não fazer esse desvio devido ao tempo que nos consumia, à dificuldade de alguns caminhos ou até ao aumento dos gastos que isso poderia representar para o nosso orçamento. Por outro lado, as muitas horas dedicadas a pedalar, também me faziam sentir que podia estar a usar esse tempo para fazer algo que me desse mais prazer, como visitar outros lugares ou dedicar-me a escrever.

Finalmente a decisão de ambos começarmos a viajar sozinhos também foi tomada em conjunto e de comum acordo, quer eu quer o Tiago sentimos que este era um momento para nos permitirmos viver esta experiência, de uma forma diferente e talvez mais completa, sem a segurança de estarmos ali um para o outro e com o desafio de gerirmos a viagem de forma individual.

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Jantar de Tamales, México

Jo: Qual o teu plano de viagem para esta viagem a solo?

Daniela: Para já conhecer a América do Sul. Continuar a visitar a Colômbia, passar pelo Equador, Perú, Bolívia, Chile e possivelmente ir também à Argentina e Brasil. Neste momento apenas tracei uma rota para a Colômbia, para os outros países vou traçando à medida que for avançando. Há alguns lugares mais icónicos que quero visitar, como Machu Picchu ou o Salar do Uyuni mas há muito mais para ver e o plano passa também por ir falando com as pessoas dos lugares para ir recebendo conselhos e sugestões, como temos feito até agora.

Jo: É a tua primeira vez a viajar sozinha? Tens alguns receios ou preocupações em relação a este modo de viajar?

Daniela: Já fiz outras viagens sozinha para realizar projetos de voluntariado e também em trabalho. Foram viagens mais curtas e a diferença entre essas viagens e esta, é o facto de ter tido sempre uma estrutura de apoio nos lugares para onde ia. Agora é diferente. Sinto que as decisões acabam por passar sempre por mim e que necessito de ir avançando por minha conta na experiência. Dá uma sensação muito boa de liberdade e autonomia e será certamente uma excelente forma de aumentar a autoconfiança e a capacidade para encontrar soluções e gerir desafios.

Se dissesse que não tenho medos ou preocupações não estaria a ser honesta. Mas sinto que estava com mais medo antes de dar o primeiro passo. À medida que os dias foram passando, comecei a ficar mais tranquila e serena.

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No deserto de Guajira, Colômbia

Jo: Para quando o regresso? As saudades já apertam ou ainda há espaço para mais um pouco de aventura?

Daniela: As saudades “das minhas pessoas” já apertam muito. Revi uma amiga aqui na Colômbia e foi muito reconfortante estar com alguém próximo depois de tanto tempo. Felizmente a internet é um excelente apoio no que diz respeito à gestão da distância. Talvez por isso, por me sentir sempre em contacto com os amigos e com a família, ainda haja espaço para mais aventura. Sinto que ainda não é o momento para voltar, há algo que me diz para continuar a viver esta experiência.

Jo: Que conselhos podes dar a mulheres que tenham o sonho de se lançar também numa aventura a solo?

Daniela: Lembrando que eu própria sou uma iniciada nas viagens a solo, o que sinto que posso reforçar neste momento é que não faz sentido trocar sonhos por medos. E que se têm mesmo este sonho de viajar, o mais importante é dar o primeiro passo e deixar o resto fluir!


Bem, falando por mim, esta conversa com a Daniela deixou-me com o bichinho da América do Sul. E de que maneira! Acho que está na hora de começar a pensar a sério em ir lá… 🙂 E tu? O bichinho instalou-se também?

Podes seguir a viagem da Daniela e do Tiago, uma de mochila e a outra ainda de bicicleta através da página de Facebook Tiago e Dani numa Viagem e através do seu blog América a Pedal.

Boas viagens!!

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Maria João Proença

Nascida e criada em Lisboa, Portugal, mas apaixonada pelo mundo. Adoro partilhar as minhas histórias de viagem, fotografias e videos e aconselhar e inspirar quem partilha a mesma paixão pelas viagens!

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