Dia 8. Motas, natureza e aventuras.
O dia de hoje foi no mínimo… diferente. Fui apanhada às 9h pelo Lai, filho do Mr. T dos Easy Riders, na Guesthouse em Hoi An. Fiz o check-out, pus o capacete e lá parti eu, à pendura numa mota, à descoberta de um pedaço do verdadeiro Vietname fora das habituais rotas turísticas.
Pelo caminho parei num mercado local (daqueles mercados a sério, com carne, peixe, legumes, folhas de tabaco e afins, nada de mercados com souvenirs para turista comprar), visitei My Son (uma espécie de Angkor Wat em tamanho muito reduzido, destruído parcialmente pelos bombardeamentos durante a guerra do Vietname), visitei uma família local onde tive a oportunidade de ajudar a fazer um crepe de arroz, e vi cenários de fazer cair o queixo a qualquer um. Paisagens do mais verde que há, rios a cortarem montanhas imponentes, miúdos a saírem da escola e a dizerem adeus à nossa passagem e simplesmente a vida a correr o seu curso como normalmente. O melhor disto tudo foi o facto de eu ser praticamente a única turista que existia num raio de muitos kms.
Até que passa o primeiro outro viajante por nós que manifesta o mesmo entusiasmo que eu ao ver um outro turista naquela estrada. De GoPro no capacete, o Aviel vinha sozinho numa mota que tinha comprado umas semanas antes aqui no Vietname. Israelita, de viagem pela Índia e Vietname há já quase 4 meses.
Falámos os 3 um pouco e lá seguimos viagem, cada um para seu lado. Ele ultrapassa-nos, deixamos de vê-lo, e qual não é o meu espanto quando passados 5 minutos o Lai pára a mota a fundo, dá meia volta, e eu vejo o israelita a sair todo cambaleante do meio dos arbustos, com a sola da bota descolada, calças rasgadas e sangue a escorrer de alguns sítios. E mota nem vê-la. Parece que ao dar a curva algo correu mal (nem ele próprio conseguiu explicar) e perdeu o controlo do bicho. A mota ficou com o guiador torto e num estado lastimável, ele saiu com alguns arranhões, perdeu alguma pele nalguns sítios e o orgulho também sofreu algumas mazelas. Podia ter sido pior.
Lá conseguiram os 2 puxar a mota outra vez para a estrada, e com algum esforço endireitar o guiador e pô-la a funcionar. Funcionou o suficiente para chegar a Prau (onde íamos passar a noite) e deixá-la numa oficina.
Ele parecia até estar bastante bem para alguém que tinha acabado de sofrer um acidente de mota. Tremia um pouco da adrenalina mas estava com uma atitude super positiva! “I made a mistake…!“, dizia ele. Aparentemente eram mesmo apenas feridas superficiais. O facto de ele ser médico (recém médico, acabado de sair da faculdade) e de trazer consigo um kit de primeiros socorros como deve ser, fez com que fosse possível ajudá-lo a desinfectar as feridas adequadamente e aplicar compressas.Tive de fazer de enfermeira durante o resto da tarde. A única coisa que os locais faziam era olhar, apontar e rirem-se. Aparentemente quando um turista sofre um acidente e fica ferido é motivo de chacota para a vila toda.
Tudo parecia mais ou menos bem até o pulso do rapaz começar a inchar imenso e ele começar a queixar-se de dores lancinantes. Dei-lhe alguns ibuprofenos que tinha comigo mas mesmo assim ele ainda teve umas ameaças de desmaio por causa das dores. Deitou-se no chão da entrada da guesthouse, trouxe-lhe uma cadeira para levantar as pernas e lá estive a tentar distraí-lo durante algum tempo para ele se manter acordado. É bem provável que tenha o pulso partido, que é coisa em que ele não quer acreditar porque isso significa que termina aqui a aventura de 4 meses. Já não há Indonésia para ninguém (para onde ele ia a seguir) e tem de contar à família o que andava a fazer em cima de uma mota, sozinho, no Vietname. Se esta noite não melhorar só lhe resta abandonar ou vender a mota aqui em Prau e apanhar um táxi até Danang, para que no hospital possam tratar convenientemente da eventual fractura.
Amanhã às 7h estou de partida para Danang para apanhar o voo para o Laos. Próximo capítulo! And fingers crossed for Aviel 🙂
Até já!!
1 Comment
Que loucura de adrenalina. ..