Cerdeira. Um refúgio de arte e tranquilidade em plena Serra da Lousã

Descobrir um novo destino ou local dentro do nosso próprio país, através de uma publicação internacional é sempre algo que a mim me deixa fatidicamente envergonhada, especialmente quando se trata de um projeto tão interessante como o Cerdeira Home for Creativity, que descobri através de um artigo publicado no britânico The Guardian.

A Serra da Lousã estava na lista há já algum tempo. Ultimamente as fotos dos seus mantos verdes de perder de vista, paisagens de tirar o fôlego e aldeias de xisto inundavam o meu feed nas redes sociais. Estava na hora de ver por mim própria se a serra era tudo aquilo que diziam ser. À porta do fim de semana saía de Lisboa rumo à pequena aldeia da Cerdeira, perdida em plena Serra da Lousã.

Casas na Aldeia da Cerdeira

Acompanhada por uma amiga, e claramente influenciadas pela perspetiva de passar 2 dias únicos no meio de natureza quase selvagem no centro de Portugal, a viagem de cerca de 170kms passou a correr. O último troço do caminho, uma estrada particularmente estreita feita de curvas acentuadas, onde sempre que se aproximava um carro no sentido contrário, uma pinga de suor escorria sem aviso, só criou mais expectativas em relação ao que encontraria ao chegar finalmente à aldeia.

Vista da Aldeia da Cerdeira

Chegámos já ao final da tarde, quando a pouca luz e o nevoeiro que, entretanto, se tinha abatido sobre a serra, já toldavam a visão. Mesmo assim, o ambiente autêntico de uma aldeia de xisto “perdida” no meio de uma natureza selvagem era evidente. Cada passo rumo à receção revelava um local que em tudo parecia ser especial. Pelo caminho passava por várias pequenas casas de xisto, encaixadas umas nas outras sobre a encosta da serra.

A nossa dava pelo nome de Casa do Sol, nome que lhe foi dado por ser a primeira a receber o sol pela manhã. O seu interior revelava um espaço divido em 2 pisos com uma decoração assente em materiais naturais, como a madeira das escadas e da mobília e o barro e palha que compunham as paredes (todos materiais regionais provenientes de empresas da zona), proporcionando um melhor isolamento térmico.

Pormenores como as pequenas portas em miniatura, esculpidas pelo artista João Gomes, que se encontravam espalhadas pelas paredes da casa, a pequena e mimosa varanda do piso superior e a vista que se tem sobre a serra quando se toma duche de manhã, faz com que tenhamos a certeza de que estamos num local realmente especial. Nada de televisão ou wifi, e rede de telemóvel só mesmo a Vodafone, graças à antena colocada recentemente lá perto. No Cerdeira Home for Creativity o objetivo é a conexão connosco mesmos, com os outros e com a natureza.

Sem vontade de pegar novamente no carro em busca de um restaurante nas aldeias mais próximas ou na Lousã, decidimos ficar para petiscar no café da aldeia, onde há poucos minutos tínhamos feito o check-in e provado um pastel de castanha e uma compota de abóbora e nozes acabadinha de fazer. O menu: uma tábua de queijos acompanhada por pão regional, dois tipos diferentes de conservas e uma garrafa de vinho que de repente se transformou em duas. É o que acontece quando a conversa flui num ambiente acolhedor e sem artifícios.

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No dia seguinte, com a luz do dia a iluminar a aldeia, consigo ter uma ideia mais concreta do que me rodeia. O Cerdeira Home for Creativity é um projeto com origem na paixão despertada num casal de alemães, a escultora Kerstin Thomas e o marido Bernard Langer, há cerca de 30 anos atrás, por uma aldeia praticamente abandonada em plena serra da Lousã.

A eles juntou-se pouco tempo depois um casal de amigos portugueses, Natália e José Serra, que tinham conhecido há alguns anos em Coimbra. O que começou por ser a recuperação da casa que escolheram habitar, acabou por se tornar num projeto de recuperação de praticamente a aldeia toda, que levaria à abertura oficial do alojamento Cerdeira Village em 2012, totalmente assente em materiais e técnicas tradicionais e sustentáveis.

Arte, tradição e natureza

O projeto está assente num conceito de partilha artística. A tranquilidade, as vistas magníficas e a quase total inexistência de rede de telemóvel (dependendo da rede) e de wi-fi (só disponível no café da aldeia), faz com que a Cerdeira seja o local ideal para partilha de conhecimentos e inspiração entre artistas de várias artes e ofícios. Quer ficando em casas individuais, quer em casa partilhada (dormitório com 12 camas), aqui é possível dar asas a qualquer inclinação artística, trocando experiências com artistas de todo o mundo. Existem vários workshops e masterclasses a decorrerem pontualmente ou por marcação, em áreas tão diversas como a escultura, a cerâmica, a feltragem de lã ou até mesmo a construção de casas de xisto em miniatura.



Todos os anos, em junho, realiza-se o Festival Elementos à Solta – Art Meets Nature, assente em exposições, música, petiscos, palestras e oficinas de experimentação. O festival decorre já desde 2006, antes da abertura do alojamento. Na aldeia encontra-se ainda um forno muito especial que não emite fumo, destinado à produção de cerâmica, desenhado e construído sob a direção do mestre ceramista japonês Sensei Masakazu Kusakabe, por vários ceramistas portugueses.

Não cheguei a fazer nenhum workshop ou experiência criativa infelizmente, mas aproveitei para, depois do pequeno-almoço servido no Café da Videira, percorrer um dos muitos trilhos que partem da Cerdeira, pelo meio da floresta. Não há nada que se compare à sensação de “desbravar” território natural bravio, de fazer um caminho que, embora tenha destino definido, se revela uma constante surpresa até ao final. As cores de Outono a decorarem as árvores, o leve nevoeiro que toldava a visão, os barulhos da floresta… uma experiência única.

O trilho que escolhemos levou-nos por um percurso de quase 3km até Candal, uma das várias aldeias de xisto da região. Um fim de semana passa a correr na Serra da Lousã: entre a visita às várias encantadoras aldeias de xisto da região, as refeições de chorar por mais nos restaurantes locais e os trilhos que nos levam por caminhadas de horas no meio da natureza, não falta o que fazer e, sinceramente, nem damos pela ausência de wi-fi ou dados móveis.

Aqui há um regresso a um estilo de vida mais simples, mais autêntico, mais saudável. Um escape que deveria ser quase obrigatório para quem vive submerso na vida urbana, na adição a redes sociais e completamente desligado do que o rodeia.

Eu vou voltar, isso é certo. Mas da próxima vez com sol. 

Reservas: Cerdeira Home for Creativity

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Maria João Proença

Nascida e criada em Lisboa, Portugal, mas apaixonada pelo mundo. Adoro partilhar as minhas histórias de viagem, fotografias e videos e aconselhar e inspirar quem partilha a mesma paixão pelas viagens!

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